quarta-feira, 29 de abril de 2009

Jogo de palavras

Faz tempo que quero escrever sobre isso, mas me falta tempo. Na verdade, agora deveria estar dormindo, uma vez que amanhã vou ter um dia longo, ou une longue journée, como se diz por aqui.

Aliás, é sobre isso mesmo que quero falar. A língua portuguesa e a francesa, por serem ambas da mesma origem, têm muuuito em comum. Eu mesma, quando não sei uma palavra em francês, falo em português terminando com o fonema [ê]. Em 99% dos casos, acerto! No caso dos verbos, então, tenho uma tática: se o verbo em português termina com [ar], em francês, geralmente termina com [er]. Tipo: complicar, vira compliquer. Simples né? Mas às vezes não funciona e dá qualquer coisa meio bizarra. Mas vale tentar.

Agora, tem umas palavras que eles usam por aqui que, pôxa (ainda leva circunflexo no ?), a gente sabe o significado, mas o som nos traz à lembrança algo completamente diferente. Por exemplo, na lanchonete do colégio onde estudo (lanchonete aqui é cafeteria), tem uma parte onde tem um cartaz assim: "les mijotés". Pôxa, a gente sabe que mijoter é algo assim como aquecer, cozinhar lentamente, aferventar. Mas, fala sério! Toda vez que vejo o cartaz só penso que tá escrito "os mijados". Tipo, faço uma tradução ao pé do fonema, pois les quer dizer os e mijotés está no particípio, mas o fonema...

E quando no ônibus a gente pergunta: voulez-vous vos asseoir, madame? Bem, asseoir se pronuncia quase como que assoar. Parece que a gente tá perguntando: a senhora quer se assoar? Às vezes me pego rindo sozinha com essas coisas.

Agora coisa é o verbo mettre que quer dizer colocar. Mas conjugado na segunda pessoa do plural fica mettez. E é muito usado pelos professores quando nos mandam colocar um arquivo no pendrive. Fica mais ou menos assim: mettez-le sur vos clés-usb. Cara, quando eu escuto isso só penso que ele tá falando prá a gente meter, tipo bem pejorativo. É complicado!

Agora tem uma palavra que eu aprendi outro dia... essa é demais. Se você escutar que alguma coisa vai te emerder, diga a verdade! Você só pensa na palavra merda, né? Ou seja, alguma coisa vai te deixar na merda! Pois é. Mas eles usam aqui sem problemas. Não ofende ninguém. É algo como isso vai te chatear. Aliás, a própria palavra merde não é pesada como em português. Significa algo assim como droga. Levinho, né?

Mas os estrangeiros também estranham nossa maneira de falar. Outro dia conheci um cara da Tunísia, casado com uma brasileira. Fala e entende português muito bem. Mas comentou conosco algo que ele não compreende muito bem. Por que é que brasileiro tem sempre algo pior prá contar? Tipo, você comenta uma coisa meio desagradável a um brasileiro e ele diz quase sempre: mas o pior é que... E geralmente conta rindo! É parece que estamos sempre muito bem preparados pro pior!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Voltei!

Pois é, gente! Depois de um longo e tenebroso inverno, volto a postar. Bom, primeiro vou dedicar alguns instantes para analisar mais a fundo essa expressão "um longo e tenebroso inverno". Ouço e utilizo essa fala desde que me entendo por gente, porém somente agora posso entender a dimensão do que se quer dizer. Sim, quem no Brasil sabe o que significa isso? Primeiro, o inverno não é longo. Aliás, na maior parte do país nem frio faz! Em outras a temperatura chega a 0° (extremos) por uns... dois ou três dias? Pois é. Nem longo nem tenebroso. Ah, mas por aqui... Sim, meus amigos. Agora entendo o que é realmente um inverno tenebroso, frio, gelado e longo (ainda não acabou - oficialmente acaba em 20 de março, mas a natureza nem sempre obedece o calendário!).

Bom, mas deixemos de lenga-lenga e vamos ao que interessa: novidades! Como já falei aqui no blog, aqui no Canadá as coisas são diferentes do que a gente estava acostumado no Brasil. Explico: acabei a minha francisação (intensivão prá aprender francês), durante a qual recebia uma ajuda de custo do governo (Só no Canadá!). Agora resolvi estudar prá me profissionalizar. Estou fazendo um curso de Modelização e Animação 3D. Até aí, pode-se dizer que não é nada demais. Mas é que esse curso custa em média uns 15 mil dólares (canadenses). Sabe quanto estou pagando? Nada! É isso mesmo! Consegui fazer esse curso pela agência de empregos do governo do Quebec e por isso, além de não pagar nada, recebo todo o material didático, livros que devo devolver à biblioteca ao final de cada sessão (cada módulo - 3 meses) e um material que eu nem sei o que é ainda, que devo devolver ao final do curso. Ah! Além disso vou receber uma pequena ajuda de custo. Pois é, mais uma vez vou estudar, não vou pagar nada e ainda vou receber dinheiro. E o melhor: com esse curso a empregabilidade é de quase 100%, pois tem uma demanda que não arrefeceu nem com a crise! Melhor que isso, só dois disso, né?

Fala sério! Com tanta oportunidade assim, quem não aguenta um invernozinho de 6 meses? Longo e tenebroso? Que nada! Já tá acabando! Já tô até com saudade da neve!!!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Casa cheia!

Ah, finalmente a família está reunida novamente! É difícil até descrever como me sinto feliz.

Os meninos chegaram bem, apesar de cansados. Minha maior preocupação era a conexão em São Paulo, pois o aeroporto é muito grande e o guichê da Air Canada é bem longe do desembarque doméstico. Mas, como André é menor, a funcionária da TAM acompanhou-os até o guichê do checkin internacional. Quando chegaram em Toronto, prá não dizer que tudo correu às mil maravilhas, o funcionário da imigração implicou com a foto de André, dizendo que não estava boa. Perguntou se ele tinha outra e Laís respondeu simplesmente que não. Só prá implicar, pois eu e Dudu tiramos nossas fotos no mesmo dia que André, com o mesmo fundo e ninguém implicou conosco quando chegamos. Bom, o resultado disso foi que os meninos perderam o vôo que estava programado prá eles. mas pegaram o vôo seguinte, sem problemas. Nenhum extravio de bagagem, nenhuma avaria, nenhum contratempo, NADA! Fiquei sem assunto! Alguém me diga como é que se pode escrever coisas interessantes se tudo corre normalmente! Brincadeirinha! Graças a Deus tudo correu normalmente.

Mas (ah, tinha que haver um MAS) tinha o frio. Ah sim, afinal estamos no inverno e Montreal não poderia receber os meninos no mês mais frio do ano com temperaturas amenas. Hoje os termômetros marcaram -20°C em média com uma sensação térmica de -30° (por causa do ventinho glacial que insiste em soprar). Dentro do aeroporto tudo estava bem. Mandamos os meninos vestirem os casacos que levamos prá eles, colocarem as luvas e os cachecois. André perguntou se precisava mesmo daquilo, pois ele não estava com tanto frio assim e afinal estava fazendo um sol lindo! Eu disse: vista tudo isso e se prepara prá a baforada gelada que vem por aí, quando a gente abrir a porta. Dito e feito. Quando a porta se abriu eu perguntei: e agora? Estão com frio? Pois é. Isso é o frio. Primeira lição em Montreal: no inverno, não se engane com o sol; quando ele aparece, geralmente é quando está mais frio! Lição ensinada, vão ficar uma semana de molho em casa prá perder o calor que trouxeram do Brasil. Semana que vem, rua, prá aprender a conviver com o frio!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Aventuras de fim de ano

O Natal daqui a gente até pode dizer que foi bem parecido com o Brasil: muita chuva! É claro, uns 30 graus a menos. Mas prá nós, que só conhecíamos o Natal branco com neve de acrilon, foi meio frustrante, pois estávamos esperando passar o nosso primeiro Natal debaixo de uma montanha de neve e não debaixo de um guarda-chuva. O pior é que tinha nevado uns dias antes. Na verdade, tinha neve acumulada nos lados das ruas. Mas já estavam virando gelo. Quando paramos o carro em frente à Igreja, abri minha porta e me deparei com aquele monte com uns 50 cm de altura. Consegui sair do carro e subi no monte. Detalhe: eu estava segurando uma bandeja com um rocambole de-li-ci-o-so que eu tinha feito prá a ceia. Tinha uma deliciosa cobertura de chocolate derretido e por isso não tinha como cobrí-lo. Resultado, chegou ao seu destino devidamente molhado de chuva! Que raiva!!! Mas tudo bem. Bom, eu desci do carro e subi no monte de neve prá tentar alcançar a calçada. Enquanto me preparava prá fechar a porta, com a bandeja na mão, meu pé afundou na neve! Tentei sair apoiando o outro pé e... afundei de novo! Como não tinha mais jeito, fui afundando até chegar à calçada! O importante era não cair. E principalmente, não derrubar o rocambole! Mas graças a Deus tudo correu bem e tivemos um culto de Natal muito bonito.
Ao final da ceia do dia 24, a Meire, esposa do Pastor, convidou algumas pessoas prá almoçar na casa deles no dia seguinte. Aí eu falei: ah, tá! Vamos enterrar os ossos! O pessoal me olhou com aquela cara de espanto: como assim, enterrar os ossos! Pô, como a maioria é do sudeste do Brasil, acho que por lá ninguém conhece essa expressão. Tive que explicar: calma, gente! É só prá dizer que a gente vai finalizar o que começou, em resumo, comer o resto! E que resto, viu? Mas enfim, dúvidas esclarecidas, no dia seguinte fomos à casa do Pastor prá... almoçar? jantar? qualquer coisa entre esses dois, pois como aqui está escurecendo cedo, quando nos sentamos prá comer já estava escuro. Daí a dúvida.
Agora a virada do ano, vou ser muito franca: com o frio que fez aqui em Montreal, prá passar de 2008 prá 2009 só usando uma passagem secreta! Sim, e o vento empurrava a gente! Neve, mais uma vez, não tinha. Gelo, muito! O vento empurrava e a gente deslizava no gelo. Muito doido! Dessa vez levei tudo coberto. Mas não choveu! Sim, porque só chove se a temperatura sobe e como estava tipo -15°C, nem neve e muito menos chuva. Mas com o vento, a sensação térmica chegava a -25°C. Ah, tudo bem! Debaixo das minhas 3 camadas de roupa, mais o casaco, tava só fresquinho. Mas mesmo com todo esse frio, chegamos em casa quase 5 horas! Passamos o ano com a turma da Igreja e depois fomos prá a casa de Ana e Antônio. Pois é, quando fomos deitar, a comida ainda estava no esôfago, uma vez que todos os demais órgãos do aparelho digestivo estavam repletos. Que exagero! Acha pouco? Pois no dia 1° fomos... enterrar os ossos (agora bem entendido!) de novo na casa do Pastor. Dessa vez foram ossos de galinha, pois decidimos abdicar do peru. Mais uma vez ficamos na dúvida entre almoçar ou jantar, mas foi muito bom. Ficamos jogando Uno (o nosso Can-Can, lembra?) até altas horas. Somente as mulheres ganharam. Meninas, esse ano é nosso!!!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Um tremendo P. I. em Montreal

No Brasil, um P. I. (abreviatura de programa de índio) é aquele tipo de programa em que a gente se mete e tudo dá errado. O problema do P. I. é que, em princípio, é um programa que tem tudo prá dar certo. Por alguma razão, uma variável foge ao controle e... pronto! o programão de sábado vira um tremendo P. I. Foi exatamento o que aconteceu. Hoje vivemos um autêntico P. I. em Montreal!
Era prá ser um programão: ir patinar no gelo no Mont Royal, no Lago dos Castores. Lugar belíssimo. Lu e Cláudio, um casal de amigos, nos chamaram e nós topamos. Eles inclusive tinham enfrentado a loucura do boxing day (dia de vendas após o Natal) prá comprar seus patins. Nós iríamos alugar (afinal preciso sentir se algo em mim tem alguma pretensão de aprender a patinar no gelo, antes de comprar os patins). Maravilha! O serviço de meteorologia tinha previsto dia bonito. Temperatura amena (beirando 6°C positivos!). Beleza, vamos sim! Eu estava com a garganta doendo, mas tudo bem! Processo de vestir as várias camadas de roupa, meia, cachecol, touca etc, etc, etc. Ok, vamos sair. Chegando na rua, primeiro obstáculo: escorregar no gelo até o carro. Vencido este obstáculo, o segundo foi raspar o gelo dos vidros do carro. Fácil, tinha começado a chover. Nesse momento, o Cláudio ligou dizendo que tava impossível sair de casa, pois estava tudo escorregando. E com chuva, não dava pra ir pro Mont Royal. Ah, não seja por isso! Não vai ser uma chuvinha e um gelinho na rua que vai estragar nosso programa. Passamos na casa deles e os pegamos pra irmos a um outro local de patinação que é coberto. Deixamos o carro em frente à estação de metrô e fomos de metrô (aliás, sábia decisão, senão nosso P. I. teria se agravado grandemente!). Chegando ao local, nos demos conta de que, não somente nós, mas toda a população de Montreal (e provavelmente das adjacências) resolveram fazer o mesmo, ou seja, trocar a patinação ao ar livre pelo local coberto. Respiramos fundo, sentindo um pouco a frustração, sentamos, tomamos um refrigerante e ficamos a discutir se abortaríamos a missão, se seguiríamos em frente e enfrentaríamos a fila ou se partiríamos para o plano B (que não existia). Decidimos pelo plano B. E nesse momento, ficamos alguns momentos traçando o plano B: cinema? pra ver o quê? em francês ou inglês? compras? com que dinheiro? comer? o quê? E foi nesse momento que decidimos ir comer donuts em Laval, uma cidade perto de Montreal. O P. I. começava a ganhar forma! A Lu falou que não estava se sentindo bem, que tava tendo uns calafrios. Pensando agora, friamente, acho que era um aviso. Pegamos o metrô de volta, entramos no carro e fomos em direção a Laval. Ao chegarmos ao shopping, nos deparamos com a mesma sensação que tivemos na pista de patinação: todos resolveram ir ao shopping. E de carro, pois achar uma vaga foi quase um milagre! Mas achamos. Descemos do carro e... patinamos no gelo. Sem patins! Tudo bem, chegamos ao shopping. Dudu e Cláudio começaram a sentir uma moleza esquisita. Decidimos comer algo, pois poderia ser fome. Deixamos os donuts prá sobremesa. Comemos, conversamos e então... vamos aos donuts. O local não era dentro do shopping, mas era próximo. Num dia de sol, sem gelo no chão, é até perto. Mas, como nosso programa foi uma corrida de obstáculos, prá chegar ao local desejado tínhamos que descobrir qual era a saída do shopping mais próxima prá a gente não ter que andar na chuva e escorregando no gelo. Depois de 3 ou 4 tentativas, achamos. Que maravilha, só atravessar um trecho de estacionamento e... voilà! Ok, mais patinação sem patins. Ah, mas ao chegarmos, como valeu! Degustamos gratuitamente donuts quentinhos, dissolvendo na boca! Compramos outros, comemos e resolvemos ir embora. Decidimos fazer o mesmo caminho por dentro do shopping, pois nosso carro estava do lado oposto. E aí... Demos com a cara na porta. O shopping aqui fecha às 5 horas aos sábados e domingos. Tivemos que andar pelo estacionamento até o carro. Ora patinando, ora enterrando o pé na neve, ora afundando o pé nas poças d'água. Demoramos um tempinho prá acharmos o carro. Quando o encontramos, não havia mais nenhum outro carro por perto e toda a área à sua volta estava coberta de gelo. Como fiquei prá trás, pois, como já disse, preciso saber se algo em mim tem condições de aprender a patinar no gelo, resolvi esperar que viessem me buscar onde estava, pois dali só sairia sentada. Enfim, voltamos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Ninguém caiu. Lu, Cláudio e Dudu voltaram sentindo-se mal. Eu voltei como saí: com a minha dor de garganta. Mas foi tudo muito bom. Com bom humor, a gente aproveita mais a vida. E, como diz o ditado, tudo está bem quando tudo acaba bem! O nosso P. I. foi DEZ!!!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal branco

Sabe aquela decoração de Natal que a gente vê nos shoppings centers de todo o Brasil? Pois é. Tô vendo aqui ao vivo e em cores. Ou melhor, em branco.
Mas até que a gente está se acostumando ao frio. Ontem saí de casa com a temperatura a -18°C (sensação térmica de -25°). Não congelei, não bati o queixo e... não escorreguei na neve! O único problema foi que estava nevando e ventando, então a neve caía nos olhos (única parte do corpo descoberta, por motivos óbvios).
Hoje a temperatura subiu prá -7°C e a gente já tá dizendo que esquentou. Tô começando a achar que o problema não é se acostumar ao frio, mas se acostumar a se vestir como uma cebola - em várias camadas. E tem mais! Não pode exagerar, senão a gente derrete de calor quando entra no metro, no ônibus ou nas lojas. E não dá prá ficar tirando e botando roupa, né? Mesmo porque o casaco de inverno é um verdadeiro trambolho. A gente tira e fica com ele pendurado no braço, pesando, aff!
Fui no shopping com Dudu, afinal, dia 23 de dezembro é meu dia de compras, mesmo que seja pouco. Não se pode quebrar assim uma tradição de... 20 anos! Pois é, a gente aproveitou as promoções prá comprar algumas coisas de que ainda estamos precisando. Num momento, Dudu me mostrou uns casacos de frio e eu disse: chega de comprar roupa de frio. daqui a pouco o inverno acaba! Falei e me dei conta de que aquilo era a mais pura mentira. O inverno está só começando e dura pelo menos até abril. Li num jornal daqui que Montreal recebe por ano cerca de 13 milhões de metros cúbicos de neve! Então o negócio é ter bom humor, botar o casaco e enfrentar o frio, porque a vida em Montreal é feita de neve e coragem.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Visualizando o inverno de Montreal

Casa enfeitada pro Natal (cada dia tem um enfeite novo!)
Temperatura amena: -3°C

Nevando...

Nevando ainda
Parou de nevar. Olha que céu azul!
Vista da varanda de casa.
Vista da janela de casa.

E aí? Vai encarar?