sábado, 27 de dezembro de 2008

Um tremendo P. I. em Montreal

No Brasil, um P. I. (abreviatura de programa de índio) é aquele tipo de programa em que a gente se mete e tudo dá errado. O problema do P. I. é que, em princípio, é um programa que tem tudo prá dar certo. Por alguma razão, uma variável foge ao controle e... pronto! o programão de sábado vira um tremendo P. I. Foi exatamento o que aconteceu. Hoje vivemos um autêntico P. I. em Montreal!
Era prá ser um programão: ir patinar no gelo no Mont Royal, no Lago dos Castores. Lugar belíssimo. Lu e Cláudio, um casal de amigos, nos chamaram e nós topamos. Eles inclusive tinham enfrentado a loucura do boxing day (dia de vendas após o Natal) prá comprar seus patins. Nós iríamos alugar (afinal preciso sentir se algo em mim tem alguma pretensão de aprender a patinar no gelo, antes de comprar os patins). Maravilha! O serviço de meteorologia tinha previsto dia bonito. Temperatura amena (beirando 6°C positivos!). Beleza, vamos sim! Eu estava com a garganta doendo, mas tudo bem! Processo de vestir as várias camadas de roupa, meia, cachecol, touca etc, etc, etc. Ok, vamos sair. Chegando na rua, primeiro obstáculo: escorregar no gelo até o carro. Vencido este obstáculo, o segundo foi raspar o gelo dos vidros do carro. Fácil, tinha começado a chover. Nesse momento, o Cláudio ligou dizendo que tava impossível sair de casa, pois estava tudo escorregando. E com chuva, não dava pra ir pro Mont Royal. Ah, não seja por isso! Não vai ser uma chuvinha e um gelinho na rua que vai estragar nosso programa. Passamos na casa deles e os pegamos pra irmos a um outro local de patinação que é coberto. Deixamos o carro em frente à estação de metrô e fomos de metrô (aliás, sábia decisão, senão nosso P. I. teria se agravado grandemente!). Chegando ao local, nos demos conta de que, não somente nós, mas toda a população de Montreal (e provavelmente das adjacências) resolveram fazer o mesmo, ou seja, trocar a patinação ao ar livre pelo local coberto. Respiramos fundo, sentindo um pouco a frustração, sentamos, tomamos um refrigerante e ficamos a discutir se abortaríamos a missão, se seguiríamos em frente e enfrentaríamos a fila ou se partiríamos para o plano B (que não existia). Decidimos pelo plano B. E nesse momento, ficamos alguns momentos traçando o plano B: cinema? pra ver o quê? em francês ou inglês? compras? com que dinheiro? comer? o quê? E foi nesse momento que decidimos ir comer donuts em Laval, uma cidade perto de Montreal. O P. I. começava a ganhar forma! A Lu falou que não estava se sentindo bem, que tava tendo uns calafrios. Pensando agora, friamente, acho que era um aviso. Pegamos o metrô de volta, entramos no carro e fomos em direção a Laval. Ao chegarmos ao shopping, nos deparamos com a mesma sensação que tivemos na pista de patinação: todos resolveram ir ao shopping. E de carro, pois achar uma vaga foi quase um milagre! Mas achamos. Descemos do carro e... patinamos no gelo. Sem patins! Tudo bem, chegamos ao shopping. Dudu e Cláudio começaram a sentir uma moleza esquisita. Decidimos comer algo, pois poderia ser fome. Deixamos os donuts prá sobremesa. Comemos, conversamos e então... vamos aos donuts. O local não era dentro do shopping, mas era próximo. Num dia de sol, sem gelo no chão, é até perto. Mas, como nosso programa foi uma corrida de obstáculos, prá chegar ao local desejado tínhamos que descobrir qual era a saída do shopping mais próxima prá a gente não ter que andar na chuva e escorregando no gelo. Depois de 3 ou 4 tentativas, achamos. Que maravilha, só atravessar um trecho de estacionamento e... voilà! Ok, mais patinação sem patins. Ah, mas ao chegarmos, como valeu! Degustamos gratuitamente donuts quentinhos, dissolvendo na boca! Compramos outros, comemos e resolvemos ir embora. Decidimos fazer o mesmo caminho por dentro do shopping, pois nosso carro estava do lado oposto. E aí... Demos com a cara na porta. O shopping aqui fecha às 5 horas aos sábados e domingos. Tivemos que andar pelo estacionamento até o carro. Ora patinando, ora enterrando o pé na neve, ora afundando o pé nas poças d'água. Demoramos um tempinho prá acharmos o carro. Quando o encontramos, não havia mais nenhum outro carro por perto e toda a área à sua volta estava coberta de gelo. Como fiquei prá trás, pois, como já disse, preciso saber se algo em mim tem condições de aprender a patinar no gelo, resolvi esperar que viessem me buscar onde estava, pois dali só sairia sentada. Enfim, voltamos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Ninguém caiu. Lu, Cláudio e Dudu voltaram sentindo-se mal. Eu voltei como saí: com a minha dor de garganta. Mas foi tudo muito bom. Com bom humor, a gente aproveita mais a vida. E, como diz o ditado, tudo está bem quando tudo acaba bem! O nosso P. I. foi DEZ!!!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal branco

Sabe aquela decoração de Natal que a gente vê nos shoppings centers de todo o Brasil? Pois é. Tô vendo aqui ao vivo e em cores. Ou melhor, em branco.
Mas até que a gente está se acostumando ao frio. Ontem saí de casa com a temperatura a -18°C (sensação térmica de -25°). Não congelei, não bati o queixo e... não escorreguei na neve! O único problema foi que estava nevando e ventando, então a neve caía nos olhos (única parte do corpo descoberta, por motivos óbvios).
Hoje a temperatura subiu prá -7°C e a gente já tá dizendo que esquentou. Tô começando a achar que o problema não é se acostumar ao frio, mas se acostumar a se vestir como uma cebola - em várias camadas. E tem mais! Não pode exagerar, senão a gente derrete de calor quando entra no metro, no ônibus ou nas lojas. E não dá prá ficar tirando e botando roupa, né? Mesmo porque o casaco de inverno é um verdadeiro trambolho. A gente tira e fica com ele pendurado no braço, pesando, aff!
Fui no shopping com Dudu, afinal, dia 23 de dezembro é meu dia de compras, mesmo que seja pouco. Não se pode quebrar assim uma tradição de... 20 anos! Pois é, a gente aproveitou as promoções prá comprar algumas coisas de que ainda estamos precisando. Num momento, Dudu me mostrou uns casacos de frio e eu disse: chega de comprar roupa de frio. daqui a pouco o inverno acaba! Falei e me dei conta de que aquilo era a mais pura mentira. O inverno está só começando e dura pelo menos até abril. Li num jornal daqui que Montreal recebe por ano cerca de 13 milhões de metros cúbicos de neve! Então o negócio é ter bom humor, botar o casaco e enfrentar o frio, porque a vida em Montreal é feita de neve e coragem.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Visualizando o inverno de Montreal

Casa enfeitada pro Natal (cada dia tem um enfeite novo!)
Temperatura amena: -3°C

Nevando...

Nevando ainda
Parou de nevar. Olha que céu azul!
Vista da varanda de casa.
Vista da janela de casa.

E aí? Vai encarar?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Congela, descongela...

Complicado esse clima daqui. Primeiro neva até não poder mais. A gente olha pra a rua e tá tudo branquinho. Aí começam os problemas: ruas cheias de neve, trânsito lento, asfalto escorregadio, carro atolado na neve, pedestre sem ter por onde passar sem enterrar o pé na neve até o meio da perna. Ah, mas a prefeitura faz a limpeza das ruas (o que eles chamam de deneigement). Então tá. Como a minha rua é residencial e não passa ônibus, esperamos quase uma semana pelo deneigement. A rua já estava um caos. Como as pessoas têm que tirar a neve da frente da casa (senão não se pode entrar em casa), vão acumulando a neve na rua. E então forma-se uma pequena mas considerável montanha de neve. Uma não! Várias! Essas montanhinhas de neve ocupam as vagas dos carros, então os motoristas começam a estacionar quase no meio da rua. Aqueles que sairam com seu carro, pois há os que só usam o carro no fim de semana. Esses tiveram que procurá-lo embaixo das montanhinhas de neve! Contando assim parece um negócio meio bizarro, mas todo mundo se entende. Aí, quando a gente vê que não tem mais onde juntar neve, a prefeitura coloca umas plaquinhas indicando que será proibido estacionar no dia seguinte das 7 a manhã às 11 da noite! Uau! Vão tirar a neve! Sim, vêm num dia pra tirar de um lado, uns dois ou três dias depois voltam pra tirar do outro lado (sempre colocam antes as tais plaquinhas de proibido estacionar). Aí o clima deu uma mãozinha e... esquentou. Coisa assim de fazer uns 3 graus positivos. E choveu. E derreteu a neve. Ah, ruas limpas, sem neve! Mas... esfriou de novo, mas não nevou. E aí? A rua vira uma pista de patinação no gelo. Olhei pela janela e pensei: amanhã tenho que sair de casa de patins com lâmina. Mas, oh, que surpresa boa! Nevou! A rua está novamente coberta de neve. Agora é esperar de novo pela operação deneigement. Pelo menos não escorrega tanto! E é aí que mora o perigo. A gente acha que não tá escorregando, sai andando na maior confiança e esquece que a camada de neve está fina e por baixo dela tem o terrível gelo. Aí é só meter o pé com muita força prá atingir o gelo e... chão! Ainda não cheguei a tanto, mas foi por pouco.
Li num jornal uma explicação muito interessante pra essas mudanças de temperatura. Sim, porque dizem por aqui que no ano passado teve neve até dizer chega! E a explicação do meteorologista é a seguinte (traduzindo): "Certos anos, temos o fenômeno El Niño, que traz as temperaturas mais quentes do Pacífico, depois temos La Niña, que traz o ar frio do Ártico. Este ano é neutro, é o que chamamos de La Nada"! Ah, então tá!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Trinta centímetros de neve

É, gente! Agora o Canadá está mostrando sua face mais terrível: o frio e a neve. A gente já sabia que eles viriam, mas talvez bem lá no fundo a gente desejasse que não fosse tão intenso. Mas é. E ainda é outono, viu? Ontem a temperatura caiu feito uma jaca mole: -20°C. Ah, mas tem o vento! Aí, meu camarada, vai a -30°C num tapa! Pra minha felicidade, ontem não teve aula. Pensei em sair e resolver algumas coisas, mas, ao contemplar a temperatura marcada no site de previsão meteorológica, foi bem fácil desistir e, como dizem por aqui, je suis restée a la maison (fiquei em casa). Ana tinha marcado de sair comigo, ela viria me buscar, de carro evidentemente, pra irmos ao shopping (evidentemente). Desencontrou-se do marido e resolveu, num arroubo de coragem que me fez admirá-la ainda mais, vir até a minha casa a pé! Pensando bem, agora me pergunto se foi coragem ou loucura! Bom, ficamos aqui, conversando até que ela me propôs que saíssemos para tomar um café. Olhei bem prá fora, voltei a olhá-la e propus: não seria melhor tomarmos um café aqui mesmo? E assim decidimos pelo Nescafé. Ela, muito sabidamente, preferiu o Ovomaltine, afinal prá quem sabe tomar café, fica difícil engolir café solúvel. Eu como tenho um paladar genérico, nem vi a diferença. Ou melhor, vi. A diferença entre ficar bem aquecidazinha em casa e encarar o vento gelado na rua.
À noite a neve começou a cair. E caiu a noite toda. Pela manhã, acordei, olhei prá fora e... neve. "Bom, tenho aula hoje", pensei. "Não é tempestade de neve", então, encarei. Três camadas de roupa, casaco impermeável, cachecol, touca, luvas, meias de lã, roupa de baixo, enfim, quase todo o guarda-roupa de uma só vez. Saí pisando gostoso na neve. sabe quando você pisa na areia da praia bem fofinha e fininha e faz um barulhinho engraçado? É parecido. Bom, cheguei à escola sem maiores problemas. Mas a neve não parava de cair. "Desse jeito", pensei, "vamos voltar prá casa com a neve pela cintura"! Bom, não chegou a tanto, mas quando saímos não havia como distinguir a calçada da rua. Tudo estava tomado de neve. Dudu disse que os motoristas andavam na auto-estrada a 20km/h. Alguns paravam para tirar a neve do vidro trazeiro. Normalmente, ele chega em casa por volta das cinco horas. Hoje já eram mais de sete quando ele chegou. Eu, por minha vez, esperei pelo ônibus uma meia hora. Cada um (pego dois ônibus). Cheguei em casa uma hora mais tarde que o normal. Mas é isso aí. Apesar de todo o transtorno que a neve causa, ao olharmos pela janela o que vemos é um belo cartão postal: telhados, pinheiros, carros, tudo branquinho. E as casas iluminadas pro Natal. É muito bonito de se ver. Se a gente pudesse ficar só na janela.

sábado, 29 de novembro de 2008

O processo de congelamento

Todo mundo sabe que existem dois tipos de geladeira: a convencional (que faz gelo e tem que descongelar) e a frost-free (aquela que gela sem fazer gelo). Pois é. Montreal estava na fase frost-free. Fazia frio. Só. Agora a cidade começa a entrar na fase convencional. E o pior é que está desregulada ainda. A neve cai um pouco, mas se mistura com chuva. E aí a cidade fica como a cozinha no dia de descongelar a geladeira - uma meleira só! Tudo molhado, escorregando, a neve amontoada junto à calçada.
O problema todo é pegar a manha de saber o que vestir! Sim, porque se você se agasalha demais, sente calor no ônibus, no metro ou quando entra em algum lugar. E a gente tem receio de colocar roupa de menos e sentir frio. O mais interessante é a gente olhar uma temperatura de 1 ou 2 graus positivos e ouvir dizerem: "ah, hoje não tá frio"! Como assim "não tá frio"? Dois graus é menos do que a geladeira de casa! Isso não é frio? Pois é, não é! A temperatura está descendo a ladeira e deve chegar a pelo menos 15 graus negativos. Será que aí a gente vai poder dizer que está frio?
Segunda-feira passada tive o prazer (??) de caminhar sobre a neve. Uma neve de uns 10 centímetros, fofinha, fazia um barulhinho engraçado quando eu pisava (estreei a minha bota de neve). Na quarta-feira tive o prazer (???) de andar sob a neve. Sim, estava nevando quando saí de casa! De leve! O problema é a regulagem da geladeira, que hora faz gelo, hora descongela. E aí chove! E aí forma a lâmina de gelo. E é aí que a gente escorrega! Mas já aprendi: a gente tem que andar arrastando os pés. Além disso, o solado da bota tem que ser do tipo pneu de inverno.
E assim a gente vai aprendendo a viver nessa cidade. Hora congelando, hora descongelando. Hora achando tudo muito lindo, hora se perguntando "o que é mesmo que eu tô fazendo aqui"? Mas não tem nada, não! Isso é só o começo! Alguém falou prá a gente que frio mesmo é quando a meleca congela dentro do nariz! E hoje um amigo nos disse que neve mesmo é quando está a pelo menos um metro de altura! Tudo bem! É sempre bom ouvir palavras animadoras, não é mesmo? No final sempre nos dizem: o primeiro inverno é sempre o pior. Quando vierem os outros, você já vai estar acostumado. Bom, sendo assim, que venha o primeiro inverno.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Babel é aqui

Diversas culturas, diversas nacionalidades, diversos idiomas, todos se encontram no curso de francisação! Gente, é a coisa mais interessante e mesmo divertida que eu já vi por aqui. Pessoas com diferentes costumes reunidas numa sala de aula com um único propósito: aprender francês. Estou no nível três, que é o último nível, então na minha turma as pessoas já falam bastante francês a ponto de poderem estabelecer uma comunicação. Fico maginando como deve ser no nível um! Sim, pois na minha turma tem uns cinco brasileiros, dois romenos, uma búlgara, um russo, um cubano, uma venezuelana, uma peruana, uma costa-riquenha, duas chinesas e um egípcio. É claro que a única coisa que nos une é o parco conhecimento da língua francesa. E a gente se torna amigo, falando nosso francês de pé quebrado, se entendendo como pode ou deixando prá lá quando não há explicação que dê jeito. Na sala de aula, estou entre o russo e um romeno. E a gente conversa! Mas o melhor é a troca de informações sobre nossos países, nossa cultura, nossos costumes, nossa comida. Uma vez o professor perguntou a uma das chinesas o que havia no lugar onde ela morava na China. Ela disse que havia praia e gente. Muita gente! Na hora do almoço, todo mundo leva sua comida de casa e esquenta num dos vários microondas da cafeteria. À mesa, ficamos a perguntar se a comida que o outro está comendo é do seu país, como é feita, o que é aquilo! Tudo devidamente explicado em francês!!! E como é divertido! É uma troca de experiências verdadeiramente enriquecedora. Ah! E, claro, tem as piadas! Todas no mais perfeito francês quebecois. A outra chinesa é casada e tem três filhos, dois deles canadenses. Ela disse que o terceiro filho é fruto de um preservativo de fabricação canadense que estava furado, ao que a costa-riquenha observou: "Mas claro! O canadá quer aumentar sua população, então os preservativos saem da fábrica devidamente furados!!!" Realmente, não sei se poderia ser melhor. Tem sido um momento maravilhoso: aprender francês, conhecer outras culturas, fazer amigos. É um bom começo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

La Migraine

Já estou bem! Mas quem me conhece sabe que sou chegada a umas enxaquecas, né? Pois é, há umas duas semanas atrás tive a enxaqueca, aquela que a gente não esquece jamais! Talvez (e tenho quase certeza) tenha sido o frio, pois peguei uma chuvinha fina e gelada no dia em que fui fazer o teste teórico para a carteira de motorista - é isso mesmo, fiz o teste com uma baita dor de cabeça! E passei!
Mas isso não vem ao caso. Quero falar mesmo é da situação com que me deparei: aqui você não compra qualquer medicamento sem receita médica. Tudo o que tinha na prateleira da farmácia e que podia ser vendido sem receita eu tomei: paracetamol e iboprufeno. Tomei também o que trouxe do Brasil, a famosa Neosa (dipirona, não vi por aqui). Nada. Parecia que estava comendo balinhas.
Quase desesperada, fui a uma farmácia e pedi prá falar com a farmacêutica. Ela me disse que sem receita só poderia me indicar o iboprufeno. Nada.
Em desespero, liguei para o seguro de saúde que fiz no Brasil. A atendente disse que em vinte minutos alguém me ligaria de volta. Aguardei. Aproximadamente vinte minutos depois me liga um cara de Miami falando português com sotaque espanhol. Me pergunta o que eu tenho e de novo explico a epopéia da enxaqueca. Ele então me diz que vai localizar ou um médico prá me atender em casa ( já eram mais de 9 horas da noite) ou uma clínica próxima de casa onde pudesse ir.
Em estado de quase total desespero, me imaginei saindo de casa àquela hora da noite, naquele frio e sem carro! Não precisou. O rapaz e Miami me ligou e disse que o médico iria à minha casa e chegaria dentro de uma hora.
Não tô brincando não! Exatamente uma hora depois, o médico tocou a campanhia. Fez as perguntas de praxe (em francês, né?), colocou uma luz nos meus olhos, me mandou tocar o nariz com a ponta do dedo indicador, me mandou andar na ponta dos pés e nos calcanhares, até que chegou finalmente ao diagnóstico: enxaqueca! Não diga (quase falei)! Muito atencioso, passou dois medicamentos e preparou-se para sair, dizendo que providenciasse o remédio no dia segunte, pois àquela hora não havia farmácias abertas - a que encontraríamos era muito longe, o que encareceria bastante.
Em estado de desespero total, perguntei: e agora, como é que eu durmo essa noite? Ele disse que nada poderia fazer. Em outras palavras, sobreviva a esta noite.
Bom, prá resumir a história, passei a noite com a Neosa e uma pomadinha chinesa na testa. Sobrevivi. No dia seguinte, Dudu comprou os remédios. Um fez efeito de MM. Mas o outro... Que bomba! Tomei, apaguei e acordei sem dor! Esse não sai mais da minha bolsa.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

É neve, galera!!!

Já faz alguns dias que a meteorologia anuncia neve em Montreal, mas eu mesma ainda não tinha visto. Já estava até achando que neve em Montreal era lenda urbana, não existia de verdade e me enganaram direitinho!
Mas ontem à noite, Dudu olhou pela janela e disse: "olha como a chuva está forte!" Eu olhei em seguida e falei: "a meteorologia anunciou neve prá hoje à noite; será que não é neve?" E fomos olhar mais de perto (da janela, bem entendido). Era neve, galera!!! Branquinha, caindo na rua, nos carros, nas árvores, linda!!!
Bom, na verdade, olhando assim ela caindo, parecia que tinham tocado fogo em algum mato e o vento estava levando as cinzas. Mas como caiu uma quantidade suficiente prá acumular, ficou tudo branquinho.
Hoje saímos e quando estávamos voltando prá casa também nevou. Mas desta vez parecia mesmo cinzas levadas ao vento, pois nem chegou a molhar o chão, foi muito fraquinha. Caminhando de volta prá casa, víamos ainda restos de neve acumulados na grama. Prá falar a verdade, parecia que todo mundo tinha resolvido descongelar o freezer e jogar o gelo na rua. Era gelo de geladeira! Aquele branquinho que se forma nos congeladores convencionais. Meio decepcionante.
Já o frio, bem este não dexou nada a desejar: já começou a mostrar suas garras. Eu e Dudu saímos de casa parecendo dois terroristas: só os olhos de fora, assim mesmo porque tínhamos que olhar o caminho, porque a vontade era de cobrir os olhos também. Teve uma hora que eu desejei estar de burca!!!
Bom, é isso. A neve não é lenda urbana e o frio é daqui prá pior. Mas a gente se acostuma. E acaba fazendo um boneco de neve!

sábado, 18 de outubro de 2008

Amigos, a gente encontra!

Acabo de chegar de um encontro de casais da Igreja Luz Para as Nações. Não é um encontro convencional e nem tampouco foi só prá casais, embora a palestra tenha sido dirigida a casais. Mas foi ma-ra-vi-lho-so!!! Além de ouvirmos uma palestra ótima, por um pastor português, tivemos uma confraternização muito legal depois, quando trocamos mais experiências e... rimos muito! Sim, no final, quase 11 horas da noite, saímos em grupo prá pegar o metrô! E vou confessar uma coisa: somente um grupo de brasileiros prá me fazer rir como ri agora há pouco. Estava realmente sentindo muita falta disso - um grupo prá poder chamar de amigos. Tudo bem, ainda não decorei o nome de todos, mas é só uma questão de tempo. Já posso chamar de amigos.
E essa questão de fazer amigos é uma coisa que me deixava meio prá baixo. É que de vez em quando me lembrava dos amigos que deixei em Salvador, em Aracaju e até os do Rio e ficava pensando: será que vou ter amigos por aqui? Sim, vou. Acho que já comecei a tê-los. E é, prá mim, mais uma prova de que Deus está, a cada momento, preparando meu caminho, seguindo na minha frente, abrindo as portas.
"Amigos, a gente encontra. O mundo não é só aqui. Repare naquela estrada, a que distância nos levará!"
E, meus amigos de Salvador, de Aracaju e do Rio, não pensem que esquecerei de vocês! Jamais! Amigo é o tipo do tesouro que dá prá juntar aqui na terra!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ana e Antônio

Sabe quando você está na expectativa de se mudar prá um lugar que você não conhece e onde você não conhece ninguém e, além de tudo, nesse lugar não se fala a sua língua? Era assim que a gente estava quando Deus colocou no nosso caminho um casal maravilhoso - Ana e Antônio.
Ana é minha prima, não me pergunte em que grau! Mas isso não interferiu em nada quando ela soube que nós estávamos de mudança prá Montreal e se ofereceu prá nos receber em sua casa. E ela não só nos recebeu como também esperou conosco numa fila sem tamanho prá fazermos a carteira da assistência médica, pois era necessário a sua presença para confirmar que estávamos residindo em sua casa, caso contrário teríamos que esperar até termos nossa casa, o que poderia ter atrasado o processo em um mês!
Ana e Antônio nos levaram pra ver alguns apartamentos e nos diziam se era ou não bom prá nós. Alguns o Antônio nos dizia que nem valia a pena perder tempo em olhar, pois o lugar não era legal. E quando encontramos o nosso apartamento, o ideal pelo tamanho, localização, preço, eles vibraram conosco pelo achado.
Mas tinha que haver um senão: o apartamento não estava livre, ou seja, o inquilino iria sair no final do mês de setembro. Isso significava que ainda esperaríamos quase três semanas prá podermos nos mudar. E mais uma vez Ana e Antônio nos acolheram: ou seja, ficamos na casa deles por quase um mês inteiro!
Não! Não é toda hora que você encontra gente assim no seu caminho. Cada um pode pensar como quiser, mas eu acredito na Providência Divina - foi Deus que colocou esse casal em nosso caminho e agradeço a Ele por isso. E peço que Deus continue derramando bênçãos sobre eles.
Ana e Antônio, muito obrigada por tudo!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sem comentários!!!

Gente, como sou principiante nesse negócio de blog, fiz uma besteira: não estava habilitada a permissão de comentários nas postagens seguintes, somente na primeira! Então minha consultora, Dra. Anabel, me instruiu e eu estou tentando corrigir o problema. Mas se eu publicar as postagens de novo, sairá da ordem cronológica, então, caso alguém queira deixar um comentário sobre as postagens ateriores (exceto a primeira), pode fazê-lo nesta, indicando a qual postagem está se referindo, ok?
Daqui prá frente, tudo vai ser diferente!

Só no Canadá!

Gente, hoje recebi uma carta do governo de Quebec me comunicando da minha inscrição no curso de francês para imigrantes. Vai ser um curso de 6 horas por dia, de segunda a sexta e, além de não desembolsar nada, ainda vou receber! É isso mesmo, vou estudar de graça e vou receber dinheiro prá estudar. E claro que não é muita coisa, mas observemos a lógica: é difícil arrumar emprego bom sem um bom conhecimento da língua. Então, o governo promove o curso, me ajuda financeiramente prá que eu consiga subsistir até acabar (três meses) e depois disso só não vai trabalhar quem não quer, porque emprego tem e muito - mas precisa saber falar bem o francês e muitas vezes o inglês. Como o inglês prá mim não é problema, aprendendo bem o francês minhas chances sobem! Fiquei mais animada! E depois desse curso vou fazer outros, pois adquirir uma formação profissional daqui é muito importante e me insere no mercado de trabalho. E prá esses cursos também eu posso solicitar uma ajuda financeira, caso precise. Pois é, gente, aqui só é vagal quem não quer nada, pois até prá quem gosta de video-game tem emprego de testador de video-game!!!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Fazendo amigos

Chegar num lugar diferente, montar uma casa, procurar emprego, fazer compras - nada disso é tão importante quanto fazer novos amigos. Ontem (domingo), eu e Dudu fomos a uma igreja de brasileiros e acho que foi mais um passo importante que demos no nosso processo de integração. Lá conhecemos outras pessoas que passaram ou estão passando pela mesma situação que nós, ou seja, estar longe da família, não ter emprego, ter que aprender uma nova língua (ou duas!). E o acolhimento foi tamanho que fomos convidados para o almoço de Ação de Graças hoje. E fomos, é claro! E foi ÓTIMO!!! Hoje nos sentimos entre amigos - amigos que nos fizeram rir, que nos deram conselhos, que nos deram dicas importantes de como sobreviver ao primeiro inverno!!! Hoje comecei a acreditar que vai dar certo, porque começamos a fazer amigos. E vou confessar uma coisa: fiquei com inveja de Maurício, quando Zai me contou que lá em Nova York se sentiu como se estivesse no Brasil, tal foi o contato com brasileiros. Então, mais que depressa busquei encontrar-me com brasileiros. E deu certo. Hoje estou mais feliz, mais confiante e sei que terei com quem passar o Natal e o Ano Novo, pois como tá todo mundo sem família, a gente forma a família dos desfamiliados!!!
Obs: Maurício é filho de Zai e mora em Nova York. Zai foi visitá-lo no mês passado. São nossos amigos de Salvador.

sábado, 11 de outubro de 2008

Desmontando uma casa e montando outra

Gente, nunca pensei que desmontar uma casa fosse tão difícil! E olha que no Brasil a gente pode doar um bocado de coisas que sempre tem gente prá receber. Mas a quantidade de coisas de que eu tive que me desfazer foi demais! Como a gente guarda coisa inútil!!! Algum tempo antes do desfazimento final, já tinha começado uma limpeza no sótão. Eu tinha guardado as provas das crianças, desde a primeira série! Quando eu vi que tinha que me desfazer, André me falou: "mãe, prá quê você guarda tudo isso se você nunca vem olhar?" É verdade, a gente guarda com pena de jogar fora, mas é preciso um pouco de razão prá entender que guardar uma coisa ou outra como recordação, vá lá, mas aquele montão de coisas só iria encher de poeira e traça. Joguei tudo fora e só guardei os diários, porque são textos deles.

Bom, desmontada a casa, é hora de montar a outra, prá onde não pude
trazer muita coisa, por motivos óbvios! E essa outra tem orçamento reduzido! Bom, estamos fazendo o melhor que podemos com móveis baratos, promoções e eletrodomésticos usados. Acho que tá ficando bem legal (vejam fotos no meu orkut)! De vez em quando me lembro de algum utensílio que eu tinha e que não trouxe. Analiso a necessidade e compro ou não. Se vou comprar, procuro primeiro no Dolarama, uma loja onde tudo custa 1 dolar (mais as taxas). Se não acho lá, reanaliso a necessidade e só compro se não puder passar sem ele!!!

Bom, é isso! Já começamos a juntar coisas por aqui, mas agora aprendi a lição: só guardo aquilo que pretendo olhar pelo menos de vez em quando. O importante é guardar as recordações no coração, onde há espaço prá um montão de coisas e muito mais!!!

Vida de cigano!

Muita gente me perguntou por que estava me metendo nessa empreitada de vir morar no Canadá. Eu respondia: "minha vida parece que começa a criar pó, então tem que sacudir a poeira!"
É isso! Quando me casei com Dudu me mudei de Salvador pro Rio. Achei que iria ficar por lá, mas 6 anos depois tivemos a oportunidade de nos mudar prá Aracaju. Sem mais delongas, arrumamos as malas e... Aracaju, aqui vamos nós! Doze anos depois, os filhos já morando em Salvador (sacudiram a poeira antes de nós), arrumamalaê, que nós vamos embora... prá Montreal!!!
Confesso que, de vez em quando, achava que auqela mudança era um sonho, que no final não iria acontecer e a gente iria ficar inde estava. Mas aconteceu! Cá estamos. E agora que aconteceu de verdade, estamos sentindo um misto de excitação e ansiedade.
E a saudade? Ai, dessa eu nem posso falar! De vez em quando me dá um aperto no coração, choro, me pergunto o que é que eu tô fazendo aqui e depois passa. Olho prá frente e vejo que tenho que ter coragem pra enfrentar essa nova vida, pelo menos até que chegue a hora de me mudar de novo! Sim, essa possibilidade estará sempre presente! Pelo menos até o dia em que eu arriar as malas em Salvador!